Respeitável cavalheiro nacionalista

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Luiz Carlos Bresser-Pereira é um intelectual cavalheiro. Eu era totalmente desconhecido quando, a convite do editor de meu primeiro livro (Ensaios de Economia Monetária, 1992), meu ex-aluno José Márcio Rego, ele escreveu seu Prefácio. Ele já tinha colocado seu nome na história econômica brasileira como Ministro da Fazenda através do “Plano Bresser”. Foi também um dos autores da Teoria da Inflação Inercial. É o editor da principal Revista de Economia Política do País Para minha honra, foi membro da banca julgadora do meu concurso de Livre-Docência em 1994. Eu sempre o admirei por seu posicionamento nacionalista e militante, embora tivéssemos diferença partidária, devido à história pessoal de cada um de nós. Fiquei muito satisfeito com a leitura do importante depoimento intelectual e político que reproduzo abaixo. Maria Inês Nassif (Valor Econômico, 08/04/2011) entrevistou-o, após ele terminar sua “Trilogia do Desenvolvimento“, reafirmando suas convicções de social-democrata.

Intelectual full-time desde que deixou o governo tucano de Fernando Henrique Cardoso, em 1999, o ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira, depois da conturbada campanha eleitoral do ano passado, eliminou seu último vínculo com a política institucional: declarou-se desligado do PSDB, que, segundo ele, caminhou de forma definitiva para a direita ideológica, empurrado pela acomodação do PT na posição da social-democracia, da qual, ao longo de oito anos de governo Lula, acabou por desalojar os tucanos.

O desligamento partidário que apenas não se concretizou na burocracia do partido por questões de ordem prática – Bresser-Pereira precisa ir pessoalmente ao diretório, para oficializar seu desencanto – marca também o retorno do intelectual à sua origem desenvolvimentista. Bresser-Pereira conta com satisfação ter sido influenciado diretamente pela escola do Iseb de Hélio Jaguaribe e Inácio Rangel, nos anos 50, e pela escola estruturalista cepalina de Celso Furtado. Foi a atração pelo desenvolvimentismo que o levou a abjurar o direito e tornar-se um economista e cientista social do desenvolvimento. Não sem desvios, reconhece. Bresser-Pereira não escapou à sedução do neoliberalismo, nos anos 90, como de resto toda a social-democracia europeia. Mas define uma diferença de origem entre ele e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, como intelectuais: o nacionalismo.

Para Bresser-Pereira, a teoria da dependência associada, de Fernando Henrique, não por intenção do autor, mas por conveniência do império, caiu como uma luva para a esquerda americana. No governo, Fernando Henrique não se contradisse: a teoria da dependência associada pregava o crescimento do país com capital externo. O caráter não nacionalista dos governos tucanos era absolutamente compatível com a teoria da dependência associada do intelectual Fernando Henrique.

Bresser-Pereira vai lançar o último livro de uma trilogia que, no seu entender, marca não apenas seu retorno às ideias nacionalistas, mas a formulação do que ele considera uma macroeconomia estruturalista do desenvolvimento. Construindo o Estado Republicano, de 2004, é a consolidação dessas ideias no plano político; Globalização e Competição, na teoria econômica. O terceiro, Capital, Organização e Crise Global: Teoria Social para o Longo Século XX: 1900-2008, fecha o círculo do pensamento de Bresser-Pereira na teoria social.

Valor: O senhor considera que, de alguma forma, tenha antecipado o debate sobre o neoliberalismo?

Luiz Carlos Bresser-Pereira: Antecipei, mas depois afrouxei. Em 1990, dei a aula magna da Anpec [Associação Nacional dos Centros de Pós-graduação em Economia], que depois foi publicada na revista do Ipea [Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada], onde fiz a primeira crítica, que eu conheça, ao Consenso de Washington. A esquerda, em geral, só veio a descobrir o Consenso de Washington em 1993. A primeira reunião que deu no Consenso de Washington foi em 1989. Mas eu soube dela, e fiz a minha crítica em 1990. Daí o John Williamson fez um segundo seminário sobre o Consenso de Washington, em 1993. E não sei por que cargas d’água fui convidado, acho que por causa da minha experiência com o Plano Bresser. Estava lá também o José Luis Fiori. A primeira crítica violenta ao neoliberalismo, pelo menos que eu tenha lido, foi do Fiori, e foi feita a partir da segunda reunião, ou seja, quatro anos depois da minha crítica. Mas foi uma crítica violenta; a minha não foi tanto, porque eu não sou tão de esquerda quanto ele, temos posições um pouco diferentes.

Valor: No momento, o senhor faz um retorno ao nacionalismo. E como foi o encontro com o desenvolvimentismo?

 

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